Número de armamentos cadastrados em 2018 para atiradores e caçadores já é 65% maior que todo o ano passado. Migração de sistema da PF seria por menos burocracia
Entre janeiro e 9 de outubro deste ano, 2.780 armas foram registradas no Exército Brasileiro em Goiás, 65% a mais que 2017 inteiro, quando foram cadastrados 1.684 armamentos no Estado. Estes números são do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), banco de dados com o registro de armas particulares de atiradores desportivos, colecionadores, caçadores, magistrados e militares.
Este será o terceiro ano consecutivo com o aumento do número desse tipo de registro de arma. Entre 2015 e 2016 a porcentagem do crescimento de cadastros chegou a 155%. A ascensão coincide com a queda do número de armas registradas, em 2016 e 2017, no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal. O Sigma é destinado ao armamento comprado por cidadãos que sentem necessidade de se proteger e concentra a maior fatia de armas registradas no Estado.
Para o presidente da Federação de Tiro de Goiás (FTGO), Hwaskar Fagundes, há uma migração do Sinarm para o Sigma, já que conseguir a permissão de ter uma arma como atirador desportivo seria menos burocrático e com mais garantias.
“Justamente pelas dificuldades impostas pela PF para autorizar a liberação, as pessoas estão buscando o clube para se filiar, por entender ser mais fácil”, explica Fagundes, que é presidente há 16 anos do tradicional clube de tiro Rio Verde.
Atiradores desportivos podem ter o direito de ter até 16 armas de fogo, dependendo do nível do esportista, que varia dependendo se ele participa de competições a nível municipal, estadual ou nacional. Na Polícia Federal o limite é de seis.
Além disso, quem tem o registro de caçador, atirador ou colecionador, o chamado CAC, pode comprar armas de uso restrito, que só podem ser utilizadas pelas forças armadas. Outra vantagem vista pelos atiradores é a de fabricar a própria munição, o que teria um custo menor. A PF tem limitação maior para a quantidade de munições.
Preparo
O atirador desportivo tem a obrigação de realizar pelo menos oito treinamentos por ano em stands de tiro. Os clubes de tiros, que também falam do aumento de sócios nos últimos anos, são obrigados a anotar essa frequência em um livro de registro de habitualidade. A fiscalização da participação é feita pelo Exército.
O aumento de 62% de armas registradas pelo Sigma no ano passado não foi suficiente para compensar a diminuição de 24% das registradas pelo Sinarm. Somando as duas categorias, 697 armas foram registradas a menos em Goiás entre 2016 e 2017. No entanto, o cenário geral é de uma tendência de aumento nos últimos anos, principalmente a partir de 2014, no caso das federais, e 2016, nas do Exército (veja quadro).
Reportagem do POPULAR de outubro mostrou que chegam a se formar filas na porta da Superintendência Regional da PF, no Setor Pedro Ludovico, de pessoas a procura do registro de arma de fogo.
Clube de tiro para mulheres
A empresária Andreia Moraes Prado, de 31 anos, percebeu a demanda por tiro desportivo e começou o Clube de Tiro dos Amigos Rio-verdenses, que começou a fazer filiação há dois meses. Hoje possui 21 atletas, sendo que seis são mulheres.
“A ideia de montar um clube de tiro veio do meu marido que é atirador. Através dele eu conheci o esporte e resolvi divulgar a prática de tiro desportivo focado mais para mulheres”, explica Andreia, que relata que ainda há preconceito com a prática de tiro por falta de conhecimento.
“Isso me motiva ainda mais a divulgar esse esporte para quebrar tabu.”
O boom de novos clubes de tiro gera algumas rusgas dos novatos com os mais antigos. Clubes tradicionais costumam ser mais rígidos na acolhida de novos membros, alegando cuidado. Clubes mais novos, que estão em constante expansão, veem elitismo nesse excesso de regras.
O Clube de Tiro e Caça Independência (CTCI), por exemplo, é de 2015 e já tem mais de 1,3 mil sócios. Já o Clube de Tiro Rio Verde completou 30 anos de existência e possui menos de 60 membros.
Entre as garantias que o atirador possui é a guia de tráfego, esse documento permite que ele ande com uma arma municiada entre um local que vai praticar tiro e outro, para proteger o seu acervo.
Associação do Ministério Público incentiva prática
Tricampeão goiano na divisão open sênior, categoria de tiro, o promotor de Justiça Lúcio Cândido de Oliveira é atirador desportista há 12 anos e percebe o aumento de clubes de tiro. Ele vê isso como resultado de uma maior divulgação do esporte, mas também como uma forma de driblar a lei armamentista, que seria muito limitadora. “Alguns desavisados procuram clubes de tiros achando que vão ter autorização para andar armado e isso é um pensamento equivocado”, avalia.
Diferente de outros cidadãos, as armas de juízes, promotores e procuradores são registradas no Exército e não na Polícia Federal. Uma decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) reconhece a atividade de promotor como de risco. “Não é incomum os promotores sofrerem ameaças em razão do exercício da atividade”, diz José Carlos Miranda Nery Júnior, presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP).
No último sábado (24), a AGMP promoveu um curso de armamento e tiro em Brasília para seus associados.
Fonte: www.opopular.com.br